quarta-feira, 23 de junho de 2010

Peixe fora d'água

Eu estava lá. Invisível para a maioria dos olhos. Sabe aquela sensação de peixe fora d’água, de que não pertenço a este mundo e nem quero pertencer? Elas estavam lá, aos montes. Cabelos chapados e loiros, saltos altos, maquiagem pesada, unhas impecáveis, olhares vazios, mas sensuais, como se sofressem de um eterno apetite sexual. Como se qualquer presença masculina significasse investida. Carnes prontas para o abate. O sorriso é congelado e comedido. As penas, tornedas após horas de malhação diária. Na mão, sempre um copo de bebida alcólica. Se tem comida de graça? Sobra. Porque não querem correr o risco de perder o corpo esculpido e sarado. Se comem, vomitam. A bochecha vermelha não representa vergonha quando recebem cantada, mas exagero no blush. Permanecem a noite toda de um lado para o outro, com os olhos atentos a qualquer movimento. Nenhuma oportunidade pode ser perdida.
Eu ainda prefiro ser invisível, cantar baixinho, mesmo sem saber a letra direito. Tirar o sapato quando estiver incomodando. Viver fora da órbita traçada pelas centenas de habitantes com os quais tenho tido o desprazer de dividir o espaço. Não sei se sou eu que estou ficando velha e, consequentemente, ranzinza, ou se as pessoas estão, cada vez mais, perdendo a noção do ridículo.

Um comentário:

Artur Moreno disse...

Velhice não é sinônimo de ranzinza. Mas no seu caso, velhice é sinônimo de beleza. Pois de fato você está ficando mais velha, e a cada dia mais bonita.
Os hoje já marmanjos da UFPE, continuam a clamar pela sua presença!
Você não é um peixe fora d´água, a água é que está contaminada.
Xero