domingo, 11 de maio de 2008

Minha casa, meu canto

Minha casa! Tão bom dizer "a minha casa". O pronome possessivo carrega o orgulho da conquista, que nesse caso não foi minha, e sim, dos meus pais. Mas como eu sou um pouco deles e, a esta altura, eles já são um pouco de mim, também me sinto orgulhosa. Já dizia a minha falecida vó: "boa romaria faz, quem em sua casa fica em paz". Na época, não soava tão bem como agora. O ditado sempre surgia na hora em que eu queria passar o fim de semana na praia com os amigos, ou na casa de uma das 'Gustosas' pra fofocarmos à noite inteira. Enfim, minha vó era uma sábia. Na minha casa, o vento faz as portas baterem o tempo inteiro. É o ônus de morar no TRIGÉSIMO andar. O bônus é a vista belíssima do Bairro de Boa Viagem, o azul do mar que ofusca meus olhos sempre que eu acordo. A tinta novinha das paredes, o sofá espremido nos momentos de discursão em família. A poltrona do telefone. Ainda bem que ela não fala, só ouve. A namoradeira, que nunca realmente foi usada para namorar. Muito desonfortável sentar em 50 cm de largura. Os brinquedos da minha sobrinha espalhados no quarto de TV. Eles deixam a casa mais colorida (e bagunçada). Um aco-íres de cores. A TV adquirida em não-sei-quantas-prestações. Os porta-retratos espalhados pela sala, que congelam momentos importantes e pessoas especiais. A varanda. A rede, melhor ludar da casa. A cozinha, lugar preferido das amigas. Sempre tem sobremesas gostosas na minha casa. E sempre tem muita gente para comê-las. O corredor, espécie de túnel de acesso aos lugares de mais intimidade. Meu quarto. Pela primeira vez na vida eu tenho o meu quarto. Sou a filha do meio de uma família com três mulheres. Não preciso nem dizer, que a do meio é sempre a que sofre mais, a menos paparicada. Passei 24 anos da minha vida dormindo de luz acesa e televisão ligada. Não porque eu queria. Adoro o escuro, o silêncio. Mas porque eu era voto vencido. Minha cama, meus sonhos, meus segredos, meus momentos de chorar escondida, de ficar quieta, de rir sozinha. Tudo tem seu exato lugar, exatamente como deve ser. Ainda bem que minha mãe puxou muito da minha vó. Ela faz questão de me lembrar que não há lugar melhor no mundo do que o meu lar.

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